Quando Deus nos transforma
Situações extremas
Situações extremas têm grande impacto sobre a vida humana, promovendo reações dramáticas e alcancando extensas repercussões. Isso se dá, por exemplo, diante de ameaças concretas, risco iminente de morte para si ou para pessoas próximas exposição a violência brutal, acidentes traumáticos e outras experiências fortes. É comum que, numa fração de segundos, toda a história de vida seja passada em revista, numa revivescência marcada por forte carga emocional.
Nesses momentos, as vivências anteriores são reavaliadas sob a pergunta do significado que tiveram, dando ensejo ao arrependimento e à formulação de novos propósitos. Não é raro que se manifestem fenómenos outros, como visões ou audição de vozes, e que seja notada uma presença a mais, geralmente tranquilizadora e atribuída à divindade. O caos emocional, com frequência, cede lugar a uma paz inesperada e de valor inefável, As consequências de tais eventos podem ser altamente positivasj perceptíveis em mudanças de caráter e de comportamento. As pessoas envolvidas não são mais as mesmas.
Além da experiência vivida por Jacó no vale de Jaboque, encontramos na Bíblia vários relatos semelhantes: Abraão com Isaque em Moriá (Gn 22), José ao revelar-se aos seus irmãos (Gn 45), Ester diante do rei Xerxes (Et 4), Daniel e seus companheiros nos momentos extremos (Dn 3; 6), Estêvão em seu martírio (At 6), Saulo na estrada de Damasco (At 9). Também a história da Igreja cristã nos fornece muitos relatos instigantes e inspiradores.
Jacó é um personagem emblemático
– nós podemos comparar a história de Jacó como a história de qualquer um de nós. Nesta noite quero focar no processo transformador na vida de Jacó quando ele enfrenta o anjo do Senhor no vau de Jaboque. Sua restauração espiritual se manifestou de sete maneiras:
- Um novo nome: não mais Jacó (enganador), mas Israel (Príncipe); – Gênesis 32.28-29.
- Uma nova bênção (Gênesis 32.29).
- Um novo lugar: Peniel (face de Deus) – Gênesis 32.30.
- Um novo dia: nasceu-lhe o sol – Gênesis 32.31.
- Uma nova marca de recordação – estava coxo – Gênesis 32.25
- Um novo andar, também exteriormente – Gênesis 32.31
- Uma nova comunhão com seu irmão Esaú – Gênesis 33.4-6
32.22-32 Jacó ficou sozinho. Que momento importante e decisivo este, quando Jaco ficou sozinho em luta consigo mesmo e com Deus! Que coragem ele demonstrou se dispor para tal confronto! Podemos imaginar quantas coisas lhe passaram pela mente e pelo coração nesta noite tão desafiadora, não é mesmo? É durante a noite, quando as horas se prolongam, que os squivocos que cometemos muitas vezes nos são revelados. O caráter mesquinho e enganador que permeou a vida de Jacó até aquele momento foi colocado em cheque, diante da figura simbólica com quem ele lutava.
Lutou com Deus
Sua constatação final foi aterradora: “vi Deus face a face, e a minha vida foi salva” (v. 30). O resultado em sua vida foi tremendo: não será mais Jacó, e sim Israel (v. 28) — não mais enganador ou suplantador, mas com Deus, ou, que luta com Deus. O Jugar ficou conhecido como Peniel (“a face de Deus”), Felizmente, Jacó sobreviveu e, mesmo fisicamente atingido, pôde prosseguir o seu caminho quando o sol nasceu (v. Ainda havia muito que caminhar, mesmo que mancando.
32.26 Não o deixarei ir se você não me abençoar. O fato de este embate com Deus acontecer bem no meio dos preparativos para o encontro com Esaú sugere que Deus tenha utilizado essa luta para preparar e fortalecer Jacó, moral e espiritualmente, para esse encontro que tanto medo lhe causava. Essa é uma estratégia que às vezes pais utilizam para fortalecer a autoconfiança de seus filhos ao permitir que, após uma disputa dura e demorada, o filho saia vencedor. A autoestima reforçada (“eu vi Deus, mas ainda. estou vivo”) certamente ajudou muito Jacó (afinal, Deus é muito mais poderoso do que Esaú!), e assim ele pôde se humilhar perante Esaú sem se apavorar e, ao mesmo tempo, conseguir resistir à tentativas de Esaú levá-lo para as terras dele, em Edom.
32.28 Você lutou com Deus. Além da luta física de Jacó com Deus no vale de Jaboque, esse embate também pode ser comparado com uma insistente oração, Toda oração sincera mexe com as emoções e os sentimentos de quem ora. Se isso acorre, a pessoa pode ser quebrantada tal como aconteceu a Jacó em Peniel, quando passou a noite toda em confronto com Deus.
Oração insistente
Uma oração insistente, por qualquer que seja o motivo, é uma espécie de luta com Deus, De um lado, o pedido reiterado de quem ora e, de outro lado, as reações de Deus que, na maioria das vezes,são diferentes do desejado por quem ora. Isso aconteceu com Jonas, quando foi engolido por um grande peixe e passou ali três dias orando a Deus, até ser vomitado numa praia deserta, a fim. de pregar aos habitantes de Nínive (Jn 1.17; 2). Algo semelhante aconteceu: também com Saulo, quando se encontrou com Jesus na estrada de Damasco: por três dias ficou cego, até se encontrar com Ananias que, por orientação divina, orou por ele, Saulo, voltou a enxergar e passou a ter uma nova orientação para a sua vida, tornando-se o maior pregador do evangelho entre os gentios (At 9.3-18).
A luta com Deus em oração tem sabor de sofrimento e dor, mas ela é recompensadora. Até mesmo quando a pessoa fica coxa, como aconteceu com Jacó — que após a luta com Deus, ganhou uma nova autoimagem: passou a ser chamado de Israel (“luta com Deus”).
Autor: Elton Melo
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