O eleitor cristão deve usar o livre-arbítrio com discernimento e sabedoria

  • 10/09/2024

A sociedade moderna, cada vez mais plural e diversificada, exige que o cristão exerça seu papel como cidadão de maneira responsável e consciente. Ao abordar o tema da participação política e social do cristão, é inevitável recorrer ao conceito de livre-arbítrio, um dom concedido por Deus, como descrito nas Escrituras Sagradas. No entanto, esse livre-arbítrio não deve ser usado de maneira leviana ou irresponsável. O cristão é chamado a fazer uso dele com discernimento e sabedoria, de forma a contribuir ativamente para o bem-estar da sociedade, sempre guiado pelos princípios bíblicos.

O livre-arbítrio: um dom de Deus

O conceito de livre-arbítrio é central na fé cristã e aparece em diversos momentos da Bíblia. Em Deuteronômio 30.19, o Senhor coloca diante de Seu povo a escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição, e ordena que escolham a vida. Essa passagem demonstra claramente que Deus nos deu a capacidade de escolher, mas ao mesmo tempo nos orienta a fazer escolhas sábias, que estejam em conformidade com Sua vontade.

Além disso, em Gálatas 5.13, o apóstolo Paulo alerta: “Vocês, irmãos, foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor”. Isso nos mostra que o livre-arbítrio, embora seja um direito dado por Deus, deve ser exercido com responsabilidade e com vistas ao bem comum. O cristão deve, portanto, refletir sobre suas escolhas e buscar sempre o discernimento de Deus para agir de acordo com os ensinamentos de Cristo.

Discernimento e sabedoria nas escolhas

Quando se fala em escolhas, especialmente no contexto social e político, o cristão deve ser ainda mais cuidadoso. O discernimento, uma habilidade dada por Deus, deve guiar cada decisão. Em Provérbios 3.5-6, lemos: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas”. Este versículo nos lembra que o cristão deve buscar sempre a orientação de Deus antes de tomar qualquer decisão.

No campo político, isso significa que o eleitor cristão precisa avaliar cuidadosamente as propostas e posturas dos candidatos, partidos e políticas públicas. O discernimento deve levá-lo a apoiar aqueles que se alinham aos valores bíblicos, como a justiça, o cuidado com os necessitados, a integridade e o respeito à vida humana. Mais do que votar, o cristão deve se perguntar se está sendo uma voz ativa na construção de uma sociedade mais justa e piedosa, segundo os princípios do Reino de Deus.

A responsabilidade cristã: não à omissão

A omissão é um dos maiores perigos para o cristão em tempos de decisão. Embora a liberdade de não se envolver em questões políticas ou sociais seja legal, ela não é aceitável do ponto de vista cristão. Em Mateus 5.13-14, Jesus nos chama a ser “sal da terra” e “luz do mundo”. Como podemos iluminar o mundo e preservar os valores morais se permanecemos calados ou inativos diante das injustiças e desafios que o mundo moderno impõe?

O cristão não pode permitir que a indiferença ou a passividade guiem suas ações. Em Tiago 4.17, o apóstolo afirma: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado”. O silêncio diante da opressão, da corrupção e da injustiça é, em si, uma forma de cumplicidade. O cristão deve, portanto, ser proativo e assertivo. Seu “sim” deve ser “sim”, e seu “não” deve ser “não” (Mateus 5.37). A clareza e a firmeza nas convicções são essenciais para quem segue a Cristo.

O cristão e as leis

Outro aspecto importante da participação do cristão na sociedade é sua relação com as leis. Paulo, em Romanos 13.1, nos ensina que “toda autoridade vem de Deus”, e que devemos estar sujeitos às autoridades constituídas. Contudo, isso não significa que devemos aceitar passivamente todas as leis impostas. O cristão deve estar atento ao que é legislado nas câmaras municipais, estaduais e federais. Leis que atentem contra os princípios bíblicos, como a vida, a família e a justiça, precisam ser questionadas e combatidas de forma pacífica, mas firme.

A prefeitura, por exemplo, é um espaço de extrema relevância para a gestão das cidades, e o cristão deve entender a importância de participar dos processos decisórios que afetam a vida urbana. O apóstolo Paulo nos lembra, em 1Timóteo 2.1-2, que devemos orar pelas autoridades e por todos os que exercem liderança, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica. Dessa forma, a paz da cidade está intrinsecamente ligada à postura ativa do cristão diante das leis e políticas que são implementadas.

A paz da cidade e a postura do cristão

A paz da cidade, mencionada em Jeremias 29.7, é um chamado claro para que o cristão se envolva com o bem-estar da sociedade onde vive. “Procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.” Este versículo mostra que a paz da cidade não depende apenas das ações dos governantes, mas também da participação ativa dos cidadãos cristãos. Orar pela paz é essencial, mas agir em favor dela é igualmente necessário.

A pós-modernidade trouxe consigo muitos desafios para a Igreja Cristã do século 21. A relativização da verdade, o individualismo e a cultura do imediatismo são apenas alguns dos obstáculos que a Igreja precisa enfrentar. Nessa realidade, a postura do cristão é fundamental para que os valores cristãos sejam preservados e propagados. Não se trata de impor uma visão exclusivista ou autoritária, mas de viver e defender a fé de forma coerente e respeitosa, com amor ao próximo e busca pela justiça.

Participação ativa e propositiva

O cristão não é dono da sociedade nem possui privilégios nela, mas tem a responsabilidade de ser um agente participativo e propositivo. Em 1Pedro 2.12, somos chamados a “manter conduta exemplar entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vocês, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção”. Isso significa que o cristão deve se envolver ativamente nos debates e questões da sociedade, sempre levando em consideração os valores e princípios da fé cristã.

Debater ideias, compartilhar pontos de vista e propor soluções são atitudes que o cristão deve adotar, sempre com respeito e amor. Em Colossenses 4.6, Paulo nos aconselha: “Que a conversa de vocês seja sempre agradável e temperada com sal, para que saibam como responder a cada um”. Isso implica que o cristão deve ser sábio e ponderado ao falar, mas nunca omisso ou conivente com o erro.

Conclusão

O cristão tem um papel relevante na sociedade. Sua omissão, embora legal, não é aceitável diante do chamado bíblico para ser “sal da terra” e “luz do mundo”. O eleitor cristão deve fazer uso do livre-arbítrio com discernimento e sabedoria, participando ativamente das decisões políticas e sociais, sendo uma voz em defesa dos princípios cristãos. A paz da cidade depende da postura do cristão diante dos desafios que a pós-modernidade impõe à Igreja. O cristão, com espírito propositivo, deve participar dos debates de forma não exclusivista, buscando o bem comum e o avanço do Reino de Deus em todos os aspectos da vida em sociedade.

Por fim, o cristão não é dono da sociedade, mas tem o papel de fazer a diferença onde estiver, buscando sempre a justiça, a paz e o amor ao próximo, conforme os ensinamentos de Cristo.


Conheça Elton Melo

elton-posse-rostoElton Melo é pastor titular da Primeira Igreja Batista Independente de Curitiba. Produz vários estudos e artigos teológicos e motivacionais, que estão disponíveis no site www.alcancevitoria.com e tem vários livros escritos. É presidente da ASEC – Associação de Editores Cristãos.

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Autor: Elton Melo