Descanso sabático para os pastores

  • 08/12/2023

Contexto

A necessidade do descanso para revigorar a vida e o ministério do pastor – Por Garret Kell

Este artigo é sobre uma prática bem comum no contexto da igreja evangélica nos EUA, que são os descansos sabáticos para pastores. Sabemos que isso pode parecer muito longe da nossa realidade no Brasil, onde até mesmo pastores serem remunerados para o trabalho pastoral em tempo integral parece ser cada vez mais raro. Entretanto, vemos sabedoria neste artigo, com princípios que podem ser utilizados e contextualizados à nossa realidade, quer para pastores em tempo integral, parcial ou até mesmo os que trabalham de forma totalmente voluntária para a igreja.

“Tempo de descanso não é tempo perdido. É economia para reunir novas forças. . . . É sábio tirar licenças ocasionais. ” – Charles Spurgeon, “Os desmaios do ministro”

Todo trabalho é árduo, mas o ministério pastoral fiel cobra um preço único do trabalhador. Os pastores têm a exaustiva honra de carregar a pressão diária de ansiedade pela igreja (2Co 11.28). O horário de expediente não é suficiente para a tensão incessante de casamentos desfeitos, pecadores perdidos, santos sofredores e guerra espiritual.

É por isso que é sábio que as igrejas exijam o descanso de seus pastores. Não estou falando de um dia de folga (que os pastores devem guardar) ou de férias (que os pastores devem tirar), mas de um período obrigatório de descanso conhecido como período sabático.

Propósito

As igrejas são melhor cuidadas por pastores revigorados. Quando um pastor está descansado e revigorado em Cristo, sua supervisão será infundida com sabedoria, tolerância e compaixão. Mas pastores exaustos e sobrecarregados têm pouco a oferecer. Sua paciência se esgota e o cinismo aumenta. Este tipo de ministério não é bom para ninguém (Hebreus 13.7).

Descansos sabáticos programados com sabedoria podem prevenir o esgotamento, proporcionando uma oportunidade de se afastar das rotinas regulares. Esses descansos sabáticos não são férias glorificadas. Eles podem incluir elementos parecidos com as férias, mas seu objetivo é exclusivamente descanso e rejuvenescimento para a alma. Eles permitem que os pastores cessem os deveres normais, abandonem fardos desgastantes e reformulem os ritmos existentes para se aprofundarem na graça de Deus. Dessa forma, os descansos sabáticos servem tanto às ovelhas quanto ao pastor.

Regularidade

Uma política sabática estabelece expectativas para todos. Como um ministro que ama meu chamado, sou auxiliado por parâmetros que exigem que eu descanse. Eu brinquei que meus presbíteros “me dão um descanso sabático” de vez em quando porque sabem quando preciso me retirar e ser revigorado no Senhor.
Algumas igrejas padronizam os períodos sabáticos pastorais de forma parecida com o ano sabático do Antigo Testamento. Isso significa que a cada sete anos, um pastor tira uma licença sabática. Isso pode servir bem a alguns pastores, mas descobri que planos sabáticos mais frequentes são mais sábios.

A política deve ter como objetivo evitar o esgotamento em vez de responder a ele. Por exemplo, os pastores da nossa equipe acumulam três semanas de licença sabática para cada ano de trabalho concluído. Isso nos permite tirar nove semanas de folga a cada três anos ou 12 semanas a cada quatro anos.

Implementar uma política como essa requer ensinar a congregação. Algumas igrejas entenderão imediatamente a sabedoria de um período sabático, mas outras podem resistir a isso. Ensinar por meio das epístolas pastorais e passagens relacionadas ajuda o rebanho a entender a colossal responsabilidade que os pastores carregam (Hebreus 13.17, 1 Pedro 5.1–11).

Também pode ser útil para o pastor e sua esposa (se ele for casado) compartilhar com a congregação como eles vivenciam o ministério. Sem resmungar, eles podem explicar que os pastores muitas vezes precisam trabalhar mesmo depois do horário de expediente, carregar o peso do pecado e do sofrimento dos outros e ao mesmo tempo enfrentar as críticas dessas mesmas ovelhas. Como Jared C. Wilson disse: “Bons pastores não podem tirar o chapéu de pastor no final do dia ou deixar seus corações para seus rebanhos no escritório quando terminam. Não é algo que você pode simplesmente desligar.”

Faça planos para os descansos sabáticos

Para administrar melhor um período sabático, os pastores devem desenvolver um plano. Ele deve trabalhar com sua família e os líderes para traçar metas e um cronograma de viagens. As metas podem incluir um plano devocional, tempo para a família, descanso físico, exercícios, dieta, aconselhamento, estudo e escrita. O plano não deve ser excessivamente ambicioso para que o pastor consiga, de fato, descansar.

A congregação também deve considerar como abençoar seus pastores durante o tempo que estiverem ausentes. Isso pode envolver escrever cartas de encorajamento, estabelecer um calendário de oração para interceder por ele, fornecer um pagamento extra para aliviar as despesas ou oferecer milhas aéreas ou casas de veraneio para facilitar a viagem.

Antes de começar o sabático, o pastor deve garantir que todos os seus casos de aconselhamento e responsabilidades de ensino sejam confiados a outros. Este é o momento de se apoiar em outros pastores, pastores aspirantes ou pastores em sua rede mais ampla para obter ajuda. E ele deve considerar fazer planos para a retomada ao trabalho, como reunir-se com a equipe de presbíteros para atualizações sobre qualquer coisa que precise ser acompanhada.

8 Princípios

Desenvolver um plano sabático requer sabedoria. Ao fazer seus planos, considere os conselhos que outros pastores compartilharam comigo.

  1. Não confie que os períodos sabáticos em si vão te fazer zeloso. Os pastores são as primeiras ovelhas. Se nos esquecermos disso, a exaustão espiritual será inevitável. Sempre procure ministrar a partir do transbordamento de sua comunhão com Jesus (João 15:1–11).
  2. Descanse, mas não enferruje. Você pode se desconectar dos ritmos regulares do ministério de uma forma que não acabe sendo edificante. Desfrutar adequadamente de filmes, jogos, esportes e entretenimento é possível, mas também é possível abusar deles. Lembre-se: você acabará amando aquilo para o qual se retira para descansar. Mantenha o entretenimento em seu devido lugar e sempre procure desfrutar de Jesus, que promete descanso duradouro para sua alma cansada (Mateus 11:28).
  3. Se possível, deixe a cidade por pelo menos parte do período sabático. Você pode não ir ao sul da França como Spurgeon, mas pode ser útil ir a um lugar onde o ministério não estará constantemente puxando você. Ao mesmo tempo, não viaje muito, pois isso pode ser cansativo.
  4. Talvez, visite outras igrejas que pregam o evangelho em vez da sua. Para alguns pastores, desligar pode ser difícil em sua própria igreja. Frequentar outras igrejas locais da mesma linha doutrinária que a sua pode refrescar, encorajar e inspirar ideias criativas para sua própria igreja.
  5. Os descansos sabáticos são tanto para o pastor quanto para a esposa do pastor. Ela também precisa de uma pausa. Membro, encontre maneiras criativas de abençoar toda a família do pastor. Pastor, considere receber aconselhamento pessoal e matrimonial durante seu período sabático. Mesmo que as coisas estejam indo bem, ter alguém capacitado para ajudá-lo a processar as pressões pessoais e pastorais pode ser revigorante.
  6. Afaste-se de tudo para se concentrar no que é mais importante. Passe um tempo prolongado em oração e nas Escrituras. Seu grande objetivo é se aproximar mais de Jesus. Faça metas modestas para escrever, estudar ou planejar com esse propósito. Mas tome cuidado para não iniciar projetos que irão te estressar mais tarde. Retornar do ano sabático com projetos incompletos cria para você problemas futuros.
  7. Leia material que dá vida. Além das Escrituras, desenvolva uma lista de outros livros e artigos que você espera consumir. Não meça o sucesso pelo quanto você lê, mas pela profundidade com que você se comunica com o Senhor por meio do que lê.
  8. Não converse sobre trabalho com outros presbíteros durante seu tempo livre. Eu era conhecido por tentar fazer perguntas instrutivas aos presbíteros para obter qualquer informação sobre o que estava acontecendo, mas eles alegremente ficavam de boca fechada para me proteger de qualquer notícia. Foi uma gentileza pela qual continuo agradecido.

Conclusão

Os períodos de descanso sabáticos não substituem os padrões regulares de descanso e refrigério em Cristo, mas podem servir à alma do pastor para um ministério longo e fiel.


Garret Kell é pastor sênior da Del Ray Baptist Church em Alexandria, Virginia.

Autor: Elton Melo